A perda de audição pode levar à demência?

A perda de audição é um problema comum, especialmente nos idosos. Mas sabias que há cada vez mais provas de que a perda de audição não é apenas um incómodo, mas também, possivelmente, um fator de risco para a demência? Vários estudos científicos mostram que as pessoas com perda auditiva têm um risco acrescido de declínio cognitivo. Isto levanta a questão: será que a perda de audição pode mesmo levar à demência?

Como a perda de audição afecta o cérebro

O nosso cérebro processa os sons e a fala. Quando a audição diminui, o cérebro recebe menos informação auditiva, tornando certas partes do cérebro menos activas. Este fenómeno é designado por “privação auditiva” e pode levar a:

  • Redução da atividade cerebral
  • Perda de ligações neurais
  • Dificuldade em concentrar-se e lembrar-se

Além disso, as pessoas com perda de audição têm de fazer um esforço suplementar para acompanhar as conversas, o que leva a uma sobrecarga mental e, possivelmente, a um declínio cognitivo mais rápido. Esta constante necessidade de adivinhar palavras e frases pode ser cansativa a longo prazo e exercer uma pressão adicional sobre o cérebro, o que pode deteriorar as funções cognitivas.

Outro problema é que as partes do cérebro normalmente envolvidas no processamento do som ficam menos activas. Isto pode fazer com que estas áreas percam capacidade cerebral, o que, por sua vez, pode levar a um declínio acelerado das capacidades cognitivas.

Pesquisa sobre a relação entre perda auditiva e demência

Vários estudos mostram uma forte ligação entre a perda de audição e um risco acrescido de demência. Um estudo de grande escala da Universidade Johns Hopkins revelou que as pessoas com perda auditiva grave têm cinco vezes mais probabilidades de desenvolver demência do que as pessoas com audição normal. Mesmo uma perda auditiva ligeira aumenta significativamente o risco.

Um outro estudo publicado na revista The Lancet sugere que a perda auditiva é um dos principais factores de risco preveníveis para a demência. Segundo os pesquisadores, o tratamento de perda auditiva pode reduzir o risco de demência em até 9%.

Este é um dado importante porque mostra que a perda de audição não é apenas uma consequência da idade avançada, mas pode ser um fator importante no desenvolvimento do declínio cognitivo. Quanto mais cedo os problemas auditivos forem tratados, menor será a probabilidade de contribuírem para a demência.

Isolamento social e declínio cognitivo

Para além das alterações cerebrais diretas, a perda de audição pode também contribuir indiretamente para a demência através do isolamento social. As pessoas com problemas auditivos têm frequentemente dificuldade em acompanhar as conversas, especialmente em ambientes ruidosos. Isto pode levá-las a evitar situações sociais, o que resulta em:

  • Menos interação com amigos e familiares
  • Aumenta os sentimentos de solidão e depressão
  • Menos estímulos mentais

O isolamento social é um fator de risco conhecido para a demência, uma vez que uma mente ativa é essencial para manter as funções cognitivas. Quando as pessoas se afastam de situações sociais, perdem o desafio mental que as interações sociais proporcionam. Isto pode contribuir para um declínio mais rápido das capacidades cognitivas.

Um aparelho auditivo pode reduzir o risco de demência?

A boa notícia é que a perda auditiva é bem tratável com aparelhos auditivos. Estudos sugerem que o uso de aparelhos auditivos não só melhora a audição, como também reduz o risco de declínio cognitivo. As pessoas que usam aparelhos auditivos permanecem mais activas em situações sociais e exercem menos pressão sobre o cérebro durante as conversas.

Um estudo recente mostra que as pessoas que usam aparelhos auditivos têm um risco significativamente menor de demência do que aquelas com perda auditiva não tratada. Este facto realça a importância de uma intervenção atempada para problemas auditivos.

Medidas preventivas

Para além da utilização de um aparelho auditivo, existem outras formas de reduzir o risco de demência:

  • Faz testes auditivos regulares: Quanto mais cedo for detectada a perda de audição, mais cedo pode ser tratada.
  • Estilo de vida saudável: Uma dieta equilibrada, exercício físico adequado e evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool ajudam a manter o cérebro saudável.
  • Estimulação mental: Os puzzles, a leitura, a música e as actividades sociais contribuem para um cérebro ativo.
  • Boa higiene do sono: A privação do sono pode stressar o cérebro e aumentar o risco de declínio cognitivo.
  • Exercício regular: A atividade física melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro e ajuda a manter as funções cognitivas.
  • Evita a exposição prolongada ao ruído: Níveis elevados de ruído podem causar lesões auditivas, aumentando o risco de perda de audição e possível declínio cognitivo.

Importância da sensibilização

Muitas pessoas encaram a perda de audição como uma parte normal do envelhecimento e não tomam qualquer medida. No entanto, isto pode ter consequências graves tanto para a audição como para a saúde em geral. A sensibilização para a ligação entre a perda auditiva e a demência pode encorajar as pessoas a fazerem exames auditivos mais cedo e a usarem aparelhos auditivos, se necessário.

Os profissionais de saúde também desempenham um papel importante neste domínio. Ao incluírem a perda auditiva nos exames de saúde habituais para os idosos, os problemas podem ser detectados e tratados precocemente. A longo prazo, isto pode ajudar a reduzir o risco de demência.

Resumo

Embora a perda de audição não seja, por si só, uma causa direta de demência, existe uma ligação clara entre as duas. A perda de audição pode levar a uma redução da atividade cerebral, ao isolamento social e a um aumento do risco de declínio cognitivo. Felizmente, os aparelhos auditivos e outras medidas preventivas podem ajudar a reduzir este risco. Por isso, é importante levar a perda auditiva a sério e tomar medidas atempadas.

Ao tratar os problemas auditivos precocemente e ao manter um estilo de vida ativo, podemos não só proteger a nossa audição, mas também manter o nosso cérebro saudável. Leva a tua audição a sério e faz testes regularmente - o teu cérebro vai agradecer-te.

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